Fabiana Ferreira Lopes

" A vida só se da para quem se deu" Vinicius de Moraes

Textos

Cárcere
Já houve entre nós
outras brigas,
desencontros,
choques diretos…

E, a cada colisão,
fomos perdendo
pedaços importantes de nós,
deste amor…

Um amor que acreditei
ser capaz de suportar tudo.

Mas aqui estou,
mais uma vez,
recolhendo caquinhos,
tentando remendar
o que rasgou —
como numa imensa colcha de retalhos…

Só que, desta vez,
não há encanto algum nessa peça.

Fragmentada,
olho para mim
e vejo o abatimento da minha alma,
o quanto ela está machucada.

Ela sussurra, baixinho:
“Doeu demais.”

Você tanto fez,
que agora parece não haver mais espaço…
não dá mais pra seguir
passando por cima,
fazendo remendos,
sufocando dores.

Talvez…
só o "eu te amo"
e a desculpa que nunca veio
já não sejam o suficiente
para eu permanecer
nesse lugar
que insisti, a todo custo,
em chamar de lar…

E que hoje
ressoa mais como prisão.

Mas confesso:
estou cansada.

Cansada de recolher migalhas,
de manter em pé
algo que desaba
sempre sobre mim.

Acho que quero desistir…
desistir disso que, um dia,
chamei de amor
e acolhi como abrigo.

Mas que, aos poucos,
partiu meu coração,
fragmentou minha alma,
borrando o encanto dos meus olhos,
podando minhas asas…

Eu, que sempre quis voar,
me vi encolhida,
presa,
silenciosa,
sufocando os gritos
com sorrisos forjados
e promessas que você nunca soube cumprir.

Você diz que me ama — tanto…
mas, ao longo desses anos,
o que mais fez
foi me quebrar.

E agora…
não sei mais
se consigo seguir
costurando os retalhos,
fazendo remendos,
calando as dores.

Talvez…
o mais amoroso a fazer
seja, enfim,
desistir.

Não do amor —
mas dessa ilusão
que insisti em chamar assim.

E, quem sabe,
um dia,
quando minhas asas crescerem de novo,
eu volte a lembrar
como é voar…

sem medo,
sem correntes,
sem prisões.
Fabiana Ferreira Lopes
Enviado por Fabiana Ferreira Lopes em 04/06/2025
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