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Cárcere
Já houve entre nós
outras brigas, desencontros, choques diretos… E, a cada colisão, fomos perdendo pedaços importantes de nós, deste amor… Um amor que acreditei ser capaz de suportar tudo. Mas aqui estou, mais uma vez, recolhendo caquinhos, tentando remendar o que rasgou — como numa imensa colcha de retalhos… Só que, desta vez, não há encanto algum nessa peça. Fragmentada, olho para mim e vejo o abatimento da minha alma, o quanto ela está machucada. Ela sussurra, baixinho: “Doeu demais.” Você tanto fez, que agora parece não haver mais espaço… não dá mais pra seguir passando por cima, fazendo remendos, sufocando dores. Talvez… só o "eu te amo" e a desculpa que nunca veio já não sejam o suficiente para eu permanecer nesse lugar que insisti, a todo custo, em chamar de lar… E que hoje ressoa mais como prisão. Mas confesso: estou cansada. Cansada de recolher migalhas, de manter em pé algo que desaba sempre sobre mim. Acho que quero desistir… desistir disso que, um dia, chamei de amor e acolhi como abrigo. Mas que, aos poucos, partiu meu coração, fragmentou minha alma, borrando o encanto dos meus olhos, podando minhas asas… Eu, que sempre quis voar, me vi encolhida, presa, silenciosa, sufocando os gritos com sorrisos forjados e promessas que você nunca soube cumprir. Você diz que me ama — tanto… mas, ao longo desses anos, o que mais fez foi me quebrar. E agora… não sei mais se consigo seguir costurando os retalhos, fazendo remendos, calando as dores. Talvez… o mais amoroso a fazer seja, enfim, desistir. Não do amor — mas dessa ilusão que insisti em chamar assim. E, quem sabe, um dia, quando minhas asas crescerem de novo, eu volte a lembrar como é voar… sem medo, sem correntes, sem prisões.
Fabiana Ferreira Lopes
Enviado por Fabiana Ferreira Lopes em 04/06/2025
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