Fabiana Ferreira Lopes

" A vida só se da para quem se deu" Vinicius de Moraes

Textos

Ferro e Kaiak

Eu te amo.
E te amo como quem sangra,
como quem não tem escolha,
como quem respira o cheiro ácido —
ferro com Kaiak —
impressão indelével na memória da pele.

Eu sinto falta...
do timbre grave, rouco,
soprando vícios e promessas
no canto úmido do meu ouvido.

Sinto falta das mãos —
mapas vivos que me liam
em braile febril,
dedilhando meus limites,
conhecendo-me mais do que eu.

Sinto falta dos beijos,
selos urgentes,
beijos com pressa de fim de mundo,
beijos que morriam e renasciam
no intervalo entre um suspiro e outro.

Sinto falta da barba,
a roçar meu corpo,
lembrando que, por um instante,
eu fui casa, abrigo, território conquistado.

E eu te amo.
Mesmo que o mundo me aponte o dedo,
mesmo que a razão me grite:
“vá embora”.

Não sei se quero me libertar
ou se, no fundo,
prefiro essa prisão sem grades,
onde só você tem a chave
e eu, o desejo de nunca usá-la.

Como amar quem feriu?
Como querer permanecer,
quando tudo aconselha fuga?

Não sei.
Só sei que não sei
imaginar um futuro sem teu contorno,
sem teu encaixe preciso,
sem o arrepio da tua presença,
mesmo que ausente.

Eu simplesmente te amo.
E, talvez, amar assim —
mesmo ferida, mesmo tola —
seja a minha forma mais corajosa de existir.




"Para o Espanhol (Bê), ainda que eu devesse te esquecer, não sei... nem sei se quero."
Fabiana Ferreira Lopes
Enviado por Fabiana Ferreira Lopes em 28/05/2025
Alterado em 28/05/2025
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